Propósito e condição para ser psicanalista- Podemos considerar a psicanálise uma resposta para angústia atual?- Quais são as patologias e crises na sociedade que estão aparecendo no consultório?
- Gillian Site
- 18 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Para mim, o propósito do trabalho do psicanalista é proporcionar o alívio do sofrimento humano dentro da complexidade que cada indivíduo apresenta. Cada indivíduo é único e singular, inserido dentro de um contexto social. Através da psicanálise auxiliamos os pacientes a superar episódios que são difíceis de serem superados sozinhos e que muitas vezes faz com que se sintam desamparados. O analista deve considerar, sobretudo, que está diante de um indivíduo humano que traz consigo suas marcas de vida repletas de significados afetivos.
A análise é um processo que leva tempo, em que devemos respeitar o tempo de nosso paciente, sem forçar processos ou induzir interpretações. Possibilitamos ao paciente um espaço único para que ele “venha a ser”, construindo o seu percurso de desenvolvimento maturacional em primeira pessoa. O analista precisa passar por um processo de análise pessoal, pois o analista também pode ter sido vítima de graves falhas ambientais. Assim através da análise, poderá retomar, em primeira pessoa, o seu caminho de desenvolvimento maturacional. Admitir a própria vulnerabilidade implica na condição de o analista assumir a sua necessidade de cuidado, deixando de lado suas defesas narcísicas e o sentimento de onipotência. Significa, sobretudo, assumir a fragilidade da essência humana e compreender que para cuidarmos de alguém, precisamos estar com os nossos cuidados em dia.
Certamente a psicanálise é uma resposta para a angústia atual, pois uma das ideias de Freud, no que diz respeito ao afeto da angústia é que esta tem sua origem no nascimento, na separação da mãe. Ela nos parece ser uma reação a uma separação, a uma perda. A angústia enquanto sinal, seria a resposta do ego à ocorrência de uma situação de perigo, quaisquer que sejam: no nascimento, a perda da mãe como um objeto; na castração, a perda do amor do objeto, que poderiam conduzir a um acúmulo de desejos insatisfatórios e a uma situação de desamparo.
A angústia seria um substituto frente ao desamparo, onde surgida originalmente como reação a um estado de perigo, esta seria reproduzida sempre que este estado viesse se repetir. Lacan considera que um certo limiar de angústia é o que deve ser sustentado em numa análise, dado que é esta angústia que leva o sujeito ao trabalho analítico e a uma possibilidade de se efetuar uma ressignificação, a uma retificação subjetiva, ou seja, um outro olhar. A angústia é o que não engana, é o próprio encontro e verdadeiro toque no Real.
Podemos reforçar a ideia de que a psicanálise é uma resposta para a angústia atual, ao observarmos as características de algumas patologias contemporâneas, tais como a psicossomática, transtorno do pânico, casos borderline e estresse pós-traumático, pois estes se assemelham com a neurose de angústia de Freud. O modelo freudiano de neurose de angústia foi amplamente utilizado pelo pensamento contemporâneo na explicação das chamadas patologias psicossomáticas. As neuroses atuais e as psiconeuroses podem manifestar-se conjuntamente, sendo comum seu aparecimento em muitos casos. A partir do modelo descrito por Freud sobre a neurose de angústia, os autores se apropriaram desta formulação para compreender as enfermidades definidas hoje como patologias borderline ou quadros-limite. Praticamente aquilo que se têm descrito nos sintomas na atualidade do transtorno do pânico é muito semelhante ao que Freud já denominou na neurose de angústia há mais de um século.
Atualmente na nossa sociedade o fato que chama a atenção é a dificuldade das pessoas em manter laços afetivos, acarretando uma insuficiência de representações na mente, gerando uma angústia intensa que pode levar à substituição da atividade simbólica, essencial à construção do psiquismo, por manifestações voltadas ao corpo ou ao ato. O pensamento perde lugar para a ação. Os pacientes de hoje apresentam distúrbios narcísicos ou depressivos, sofrem de solidão e de sintomas de perda de identidade. Possuem um “eu” que se vê exposto, frágil, deprimido e que está em constante necessidade de ser confirmado.
A tecnologia acena com a ilusão de satisfação imediata dos ideais narcisistas. Além disso, o espaço para o questionamento, necessário à evolução da sociedade, está tomado, muitas vezes, por um relativismo extremado em que se perdem os limites, as responsabilidades e as funções atribuídas a determinados papéis sociais. A consequência é uma angústia intensa frente a um vazio de representações (internas e externas). Aparecem os quadros de depressão, anorexia nervosa, uso de drogas, suicídios, ataques de pânico, entre outros, que, além de estarem presentes na atualidade, são quadros que já acompanhavam a humanidade há muitos anos.
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Referência bibliográfica
Psicanálise & Barroco em revista | v.19, n. 01 | julho de 2021 172 EMPATIA NA PSICANÁLISE: UM ENFOQUE NA TEORIA DE KLEIN E WINNICOTT
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